sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Coluna da sexta

A profecia do São Francisco

A transposição do São Francisco nunca foi um consenso. Embora a ideia seja praticamente secular (durante a vigência de D. Pedro II já era defendida como alternativa à seca), tendo sido ainda considerada por Governos tão distantes quanto Getúlio Vargas (que retomou a discussão em 1943) e Fernando Henrique Cardoso, foi na Era Lula que começou a ganhar forma, com as obras iniciadas em 2007.

Naquele ano, a discussão em torno do empreendimento já era acalorada, porém genérica. Não se debatiam consequências para regiões específicas, algo então inconcebível naquele contexto, dada a dimensão faraônica da obra. As queixas daquele tempo diziam respeito a um eventual dano na produção de energia, já que a grande maioria da energia no Nordeste provém das hidrelétricas que aproveitam o Velho Chico - a retirada de água, portanto, causaria uma queda, vista como irrisória pelos defensores do projeto.

Já o impacto ambiental era minimizado pelo Ibama, que considerava que os benefícios eram maiores, enfatizando a revitalização dos trechos poluídos. Os defensores ainda achavam os açudes subutilizados, alertando para a evaporação, potencializada pela água parada. Contudo, a 'subutilização' das águas tinha uma razão clara: o medo de que os açudes secassem - pesadelo que virou realidade na fronteira de Pernambuco com o Ceará.

Lá, com a paralisação das obras de um canal, o açude do Oliveira - único a abastecer o distrito pernambucano de Montevidéu - secou. Não sobrou um pingo dos antigos 10 milhões de litros de água, levando o lugar uma situação única em seus 80 anos. Realizada a profecia do São Francisco, Montevidéu não tem mais água nem esperança.

Em 2007, o bispo Luiz Cappio fez greve de fome contra a obra, num caso que ganhou repercussão nacional. À época, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, em prol da preservação do meio ambiente. Passados cinco anos, a transposição, como o blogueiro revelou, tem um lado mais pernicioso do que se imaginava - ao menos na fronteira com o Ceará. E, por pior que seja a situação, ninguém ali faz greve de fome em protesto. Na maior estiagem dos últimos 50 anos, a fome vem de todo jeito. E a sede também, com mais força ainda.


Destaque 1 - Novamente, a série sobre a seca foi repercutida no Congresso, desta vez pelo deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), que parabenizou o blogueiro na Sala das Sessões, na última terça-feira. Sertanejo do Pajeú, Inocêncio destacou o trabalho do blogueiro como 'um dos mais brilhantes e competentes, a nível regional e nacional'.

Destaque 2 - O pecuarista Djalma Cidrim, de Serrita, que perdeu mais de 200 cabeças de gado em 40 dias, foi um dos personagens da série Jornal Nacional no Ar, exibida durante o programa homônimo da Globo. O drama de Djalma foi revelado pelo blog, cuja repercussão propiciou o envio de sete toneladas de milho para o pecuarista, autorizado pelo gerente de operações da Conab no Recife, Elizaldo Sá.


Reunião - Depois de promover um grande expediente na Alepe sobre a crise no setor sucroalcooleiro e organizar uma reunião do setor com o governador em exercício João Lyra Neto (PDT), o deputado estadual Aluisio Lessa (PSB) articula para o dia 3 de dezembro uma reunião entre a Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), Sindicato dos Cultivadores de Cana, Sindaçúcar, Ipa, Fetape e outros envolvidos com integrantes da bancada federal de Pernambuco. O encontro acontecerá às 10h30, no auditório da AFCP.

CURTAS

Privilégio - Leitores têm enviado queixas ao blog relatando que a distribuição de milho aos pequenos pecuaristas tem sido desigual. Alguns produtores, privilegiados, teriam chegado a receber mais de dez toneladas.

Recorde - O blogueiro ontem enviou foto à redação com o termômetro registrando 41 graus, na fronteira de Pernambuco com o Ceará. Mal tinha matado a sede quando chegou na comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, em Salgueiro, onde definhou sob o calor de 49 graus.

PERGUNTAR NÃO OFENDE - O que os defensores da transposição têm a dizer sobre o fim do açude do Oliveira?
magno martins 

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