Thiago Lins
(Interino)
Na própria carne
Em ocasião do IV Fórum Global de Combate à Corrupção, em 2005, o então presidente Lula (PT) deu uma de suas declarações célebres: 'Vamos cortar na própria carne'. Aquele foi o ano da primeira grande crise da Era Lula, o escândalo dos Correios. À época, foi divulgado um vídeo com o administrador Maurício Marinho (que foi afastado da chefia de departamento dos Correios) recebendo propina, alegando agir sob ordens de Roberto Jefferson (PTB), que teve o mandato de deputado federal cassado. A fita detonou a crise.
Sob pressão, Jefferson se defendeu atirando, revelando o esquema do mensalão, cujo julgamento acompanhamos hoje. Jefferson ganhou o título de homem-bomba da República. Lula, por sua vez, se auto-intitulou 'o principal guardião das instituições deste País, funcionário público número 1'. Ao longo dos dois mandatos, o guardião cortou muito 'na própria carne': foram expulsos 2.969 servidores, de acordo com balanço da Controladoria Geral da União - uma média de 35 por mês.
Sempre que questionado pela imprensa acerca do que o léxico petista mais tarde definiu como 'mal feitos' (num eufemismo cínico e marqueteiro), que em seu Governo foram muitos, Lula atribuía a repercussão dos casos ao combate à corrupção. No entendimento dele, o enfrentamento foi que aumentou - e não a corrupção em si.
A julgar por essa leitura, o ex-presidente deve estar vibrando com o último relatório da CGU. Só em outubro, 56 servidores foram expulsos pela administração federal, por envolvimento com corrupção. A marca, este ano, foi superada apenas pela de setembro, com 59 funcionários expurgados. É, a média recente do 'combate à corrupção' é quase o dobro da média histórica de Lula, que já não era positiva.
Com números tão alarmantes, soa duvidoso que só o 'combate' tenha crescido, embora o trabalho de fiscalização deva ser louvado. O fato é que, pelo menos numa coisa, Lula estava certo. Ainda é preciso cortar na própria carne. O que o petista talvez não tivesse imaginado é que a carne fosse tão gorda.
Califórnia da seca - Como bem mostrou o blogueiro ontem (19), a região do Vale do São Francisco pode passar de Califórnia brasileira a Califórnia da seca. A prolífica região, grande exportadora de uva e manga, também foi atingida pela seca. Gado morto, açudes, barreiros e até cisternas secos. Em Afrânio, pipeiros estão retirando água do açude, a principal nascente da cidade, que tende a secar logo. Apreensivos, moradores temem perder a última opção: a de comprar água, ainda que por um preço caro.
Governo responsável? - Quando o Governo Federal tem um projeto barrado pela oposição, clama por uma 'oposição responsável', propositiva. Mas, em nítida retaliação à derrota imposta por ACM Neto em Salvador, Dilma e Jacques Wagner barraram a obra do metrô na capital baiana, para que o mérito do empreendimento não chegasse ao democrata. A empreiteira OAS tinha financiado a campanha de Nelson Pelegrino, cuja vitória era determinante para o andamento da obra. Com elogios, o prefeito eleito acenou para Dilma recentemente. Mas acaba de dar de cara com uma porta fechada, pelo visto. E a retaliação do Governo não foi um ato, por assim dizer, propositivo.
Experiência - O prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PSDB), encontra-se em Bogotá.Lá, discute urbanidades e mudanças climáticas, com mais 21 prefeitos da Colômbia e outros países da América Latina, além de autoridades como Denis Baupin, vice-presidente da Assembleia Nacional da França. Não podemos subestimar a questão climática, mas o prefeito bem que poderia pegar algumas coordenadas, também, sobre a segurança em Bogotá. A Colômbia vive um conflito armado há praticamente 50 anos, e ainda assim Bogotá teve os índices de violência reduzidos expressivamente nos últimos anos.
CURTAS
Vontade de poder - Lula já afirmou que, caso Dilma não se candidate à reeleição, pode concorrer à Presidência em 2014. Por enquanto, sua campanha é outra. Em périplo pela África do Sul, Moçambique, Etiópia e Índia, onde se encontra com políticos e empresários, Lula está de olho no Nobel da Paz.
Adiamento - Foi adiado de hoje para amanhã, às 15 horas, na Alepe, o debate proposto pelo deputado Aluisio Lessa (PSB) sobre a crise do setor sucroalcooleiro em Pernambuco. Enquanto isso, o socialista articula uma reunião dos representantes do setor com o governador em exercício João Lyra Neto (PDT).
PERGUNTAR NÃO OFENDE - Teremos um Prêmio Nobel no páreo em 2014?
Escrito por Magno Martins,
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