sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Alexandre Oliveira troca campo pela arquibancada: 'Serei um dos 60 mil no Arruda'

Volante, capitão do Santa Cruz na queda à Série D vai estar na torcida pelo seu tricolor na decisão de domingo

Por Tiago Medeiros Recife
Alexandre Oliveira, Santa Cruz (Foto: Arquivo pessoal)Alexandre Oliveira era o capitão tricolor na queda
para a Série D. (Foto: Arquivo pessoal)
Ter o privilégio de vestir a camisa do seu clube de coração, atuar em seu estádio lotado, marcar um gol decisivo e erguer a taça à sua torcida está presente no imaginário de qualquer torcedor.
Alegria, glória, conquista.
Agora imagine-se com o uniforme de seu time de coração fazendo parte do instante de vergonha extrema em toda a sua história.
No domingo 24 de agosto de 2008, o Santa Cruz empatava em casa com o Campinense por 1 a 1 e caía à Série D do Campeonato Brasileiro. Atônito, o camisa oito da equipe carregava a vergonhas às costas e o fardo de ser capitão daquele grupo fracassado.
Uma ferida que custa a cicatrizar para qualquer jogador de futebol e de danos irreversíveis à alma do meio-campo Alexandre Oliveira, tricolor “doente”, como mesmo se define.
- Fique desnorteado, não sabia o que fazer, para onde ir. Eu sou tricolor, sabia o que a torcida estava passando, o tamanho da dor. Naquele dia vivi a maior decepção de minha vida profissional e pessoal – contou.
O rebaixamento à Série D era o derradeiro degrau da derrocada que o Santa Cruz havia mergulhadoanos antes: queda da Série A que redundou em outros três descensos de forma consecutiva, um feito inédito e nada honroso ao Tricolor.
- Estávamos no fundo do poço. Havíamos chegado num estado onde não poderia ficar pior - lembrou.
As razões da queda
Alexandre aponta o ex-presidente Edson Nogueira, o Edinho, como o principal responsável pela queda.
- Foram contratados dezenas de jogadores que não tinham a menor identificação com o clube, que estavam dando com os ombros para o que estava acontecendo. A turma só queria saber de tomar banho na praia de Boa Viagem e passear no shopping. Enquanto que eu e os pratas da casa sofríamos com tudo aquilo. Além disso, ele (Edinho) chegou a nos deixar com três meses de salários atrasados – disse.

O jogador revela que chegou a abrir mão de um salário para que fosse dividido com funcionários do clube:
- O presidente me pediu e aceitei sob a promessa de me pagar o valor em três prestações, mas até hoje não vi a cor do dinheiro.
Segundo Alexandre, o Santa Cruz lhe deve quase R$ 40 mil (das gestões Edson Nogueira e Fernando Bezerra Coelho) e que ninguém o procurou para fazer um acordo.
Colocar o clube de coração na justiça não passa pela sua cabeça, mesmo motivado pelos advogados.
Alexandre Oliveira virou bandeira na torcida do Santa Cruz (Foto: Divulgação/Santa Cruz)Alexandre Oliveira virou bandeira na torcida
do Santa Cruz (Foto: Divulgação/Santa Cruz)
- Eu espero que alguém tome a iniciativa de me procurar. Acredito na boa fé dos dirigentes e que eles tenham consideração com um ex-profissional , que sempre procurou honrar as cores do clube.
Em 2009, o volante teve a chance de tirar o Santa Cruz da Série D, mas o tricolor não conseguiu passar da primeira fase da competição. Ali se encerrava sua passagem pelo Arruda.
- Mesmo à distância, segui acompanhando o Santa Cruz pela internet, vendo os jogos pela TV e até mesmo ouvindo rádio na concentração vestindo a camisa de outras equipes.
Na torcida pelo Santa Cruz
No domingo, Alexandre voltará a usar a camisa tricolor. Não como atleta, mas sim como torcedor. Estará no Arruda acompanhando o jogo decisivo contra o Treze, que pode levar o Santa de volta à Série C. O tricolor pernambucano joga por três empates (0 a 0 a 2 a 2) ou uma vitória simples para ficar com a vaga.
- Vou ligar para o Sandro (Gerente de Futebol do Santa Cruz) e tentar conseguir uns ingressos para ver o jogo das cadeiras. Caso não seja possível, vou pra arquibancada mesmo. Uma coisa é certa, serei um dos 60 mil tricolores que vão estar lá – promete.
Alexandre Oliveira na torcida pelo Santa Cruz, em 1998 (Foto: TV Globo Nordeste)Alexandre Oliveira, no Arruda, na torcida
pelo Santa Cruz em 1998 (Foto: TV Globo Nordeste)
Em 1998, quando tinha 20 anos, o apenas torcedor Alexandre Oliveira foi registrado pela equipe da Globo Nordeste na torcida pelo Santa no jogo contra o Volta Redonda (foto ao lado).
- Quando fui ganhando espaço, criando um nome no futebol, sabia que aquela imagem, mais cedo ou mais tarde, apareceria. E Não tem como negar. Sou eu mesmo.
Naquele jogo o Santa Cruz escapara de cair para a Série C ao vencer o Volta Redonda por 3 a 2, com um gol do zagueiro Rau aos 46 do segundo tempo, que fez explodir o Arruda, que recebera mais de 55 mil espectadores numa quarta-feira à noite.
Tenho certeza que domingo irei presenciar mais um momento histórico, o renascimento do Santa. . Chegou a nossa hora"
Alexandre Oliveira
- Tenho certeza que domingo irei presenciar mais um momento histórico, o renascimento do Santa. Esse grupo merece, Zé Teodoro merece e, acima de tudo, essa torcida merece. Chegou a nossa hora – vibra.
Aos 33 anos, Alexandre Oliveira pretende jogar só mais uma temporada e iniciar carreira politica. Pretende concorrer a uma vaga como vereador em sua cidade, Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife. E nem mesmo só 50 km que separam sua casa do Arruda serão obstáculos para acompanhar a partida.

Mas antes de parar, Alexandre ainda reserva um sonho como profissional:
- Gostaria de encerrar minha carreira num jogo comemorativo com a camisa do Santa Cruz. Seria maravilhoso poder jogar, mesmo que fosse apenas mais uma vez, no Arruda – conta.
Mas o assunto “despedida” está fora de discussão até segunda-feira.
- Não quero falar da minha e tampouco da do Santa. Chega de sofrimento, não tem essa de morrer na praia. É a vez do Santa Cruz e só Deus é capaz de tirar essa vaga da gente, mas tenho certeza que ele estará do nosso lado - acredita.

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