sexta-feira, 20 de abril de 2012

População indígena do Nordeste é a segunda maior do País

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Integrantes da etnia tuxá, de Inajá (PE)
Foto: Hélia Sheppa/JC Imagem

Mariana Dantas Do NE10
Se você, que reside no Nordeste, for questionado por algum turista se ainda existem muitos índios na sua região, qual resposta daria? Diria que aqui não tem índios e que eles vivem na floresta amazônica? Ou diria que a nossa região possui 27%,8 dos indígenas brasileiros, perdendo apenas para o Norte (32%), e que poderemos encontrá-los tanto nas áreas urbanas como nas rurais?

A segunda resposta é a correta, mas se a sua foi a primeira opção, não se culpe por isso. De acordo com o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e consultor da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), Marcondes Secundino, até os anos 80, era imposto à população indígena do Nordeste "mecanismos" de invisibilidade. "Os índios foram ignorados e destituídos de sua cultura. As elites tinham interesse em apagar a presença indígena até mesmo por meio de documentos. Na visão das autoridades, só seriam verdadeiramente indígenas os que exibissem os estereótipos raciais e culturais", explicou Secundino.

Ao mesmo tempo em que exigiam uma "condição" para reconhecer os índios, as autoridades buscavam "eliminar" sua cultura. Deixar de falar a língua foi uma imposição inclusive dos colonizadores. Se os índios não a respeitassem, corriam o risco de serem perseguidos, de não conseguirem trabalho e de sofrerem preconceito. "É claro que um processo histórico dessa natureza, que perdura por cerca de cinco séculos, provoca sérias consequências. Os impactos existem até hoje", disse o pesquisador. 

Com o objetivo de combater argumentos equivocados que continuam a negar ao indígena do Nordeste o reconhecimento dos seus direitos, sobretudo na demarcação das terras, a Fundação Joaquim Nabuco e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram o livro “A Presença Indígena no Nordeste”. A publicação traz textos de historiadores e antropólogos que refletem um pensamento crítico em relação à forma preconceituosa e superficial com que, de modo geral, esses índios têm sido percebidos pela sociedade.

"O livro busca mostrar para a população que essa visão é resultado das estratégias das autoridades políticas e econômicas. Pois, quando o Estado reconhece que existe um povo indígena em determinado lugar, precisa assegurar os seus direitos coletivos e demarcar a terra. Para os governantes, é melhor não reconhecê-los porque assim não precisará entrar em conflito com as elites locais e fundiárias", afirmou Secundino, que possui um artigo publicado no livro.

ONDE ESTÃO OS ÍNDIOS? - Em relação à população indígena, a divisão regional brasileira é diferente do território geográfico convencional. Trata-se um mapa geopoliticamente pensado na história da população indígena. A região Nordeste (chamada também de Nordeste-Leste) exclui o estado do Maranhão (que integra o Norte) e inclui os estados do Espírito Santo e Minas Gerais.

A região Nordeste (ou Nordeste-Leste) abriga cerca de 80 povos indígenas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, em termos de contingente populacional, a Bahia é o terceiro estado em população indígena no Brasil e primeiro no Nordeste, com 56.381 índios. Pernambuco é o segundo da região e o 4º do País, com 53.284.
Confira a população de todos os estados da região no gráfico abaixo:




"Mesmo sendo perseguidos, os índios conseguiram se articular dentro de uma rede étnica regional. Nos séculos 18 e 19, por exemplo, existiam lugares de refúgio de índios e negros. Em Pernambuco, sobretudo no Sertão, era muito comum que algumas comunidades indígenas compartilhassem espaços geográficos com os quilombolas", explicou Marcondes Secundino.

De acordo com o pesquisador, embora o processo de democratização no País, na década de 80, tenha contribuído para autodeterminação dos indígenas, já que as pessoas antes discriminadas puderam se afirmar como indígenas, o governo não avançou no reconhecimento territorial.
Para Marcondes Secundino, é preciso combater argumentos equivocados que continuam a negar ao indígena do Nordeste o reconhecimento dos seus direitos
"Fizemos uma pesquisa e descobrimos que hoje o Nordeste possui cerca de 110 situações terrioriais (locais onde residem os povos indígenas), porém menos de 30% dessas situações estão regularizadas. É um problema seríssimo. As elites continuam com força política para impedir o processo de demarcação desses territórios. Assistimos neste momento o drama dos Pataxó Hahahãe na Bahia, enrte tantos outros ", disse o pesquisador.

A maioria dos territórios indígenas do Nordeste está localizada nas áreas rurais e tem como principal atividade a agricultura e o artesanato. Assim como outros moradores dessas localidades, muitos índios trabalham no comércio, são funcionários públicos e atuam também como professores e agentes de saúde. Segundo Secundino, "no Ceará, a atividade é um pouco atípica porque existe a presença indígena na Região Metropolitana e, por isso, alguns são empregados no setor industrial".

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